Opiniões, informações e responsabilidade social

A revolução nos meios de comunicação, em especial com o advento da internet, ao tempo que nos permitiu maior interação e participação na produção e divulgação da informação (ampliando "a voz do homem comum" e fomentando sua liberdade de expressão), por outro lado tem promovido a necessidade imediata de uma profunda reflexão sobre o peso da responsabilidade social (no uso desses meios) para a construção da desejada cidadania. 
Em especial no contexto atual brasileiro (escândalos de corrupção, insatisfação com o poder público...), há uma ansiedade generalizada pelo "grito de indignação", ou pela identificação dos "culpados", o que tem conferido à mídia social veiculada na internet o poder de disseminação das mais diversas opiniões que visam promover uma influência sobre a imagem das pessoas, especialmente as figuras públicas.
Até aí, parece que esse fenômeno produz um empoderamento saudável do homem que deseja promover a cidadania. Entretanto, há que se ponderar algumas questões... Há construção de cidadania quando se promove e divulga informações falsas? Ou quando se utiliza de dados para, deliberadamente, forçar a interpretação equivocada de fatos e/ou informações?
O que tenho visto crescer assustadoramente nas redes sociais não é bem o seu uso para a construção da cidadania. Tenho visto, com muita frequência, a manifestação de opiniões com explícito interesse da auto-promoção de seus autores, quase sempre de cunho político-partidário. Não que eu tenha nada contra a divulgação do trabalho dos servidores públicos ocupantes de cargos eletivos (pelo contrário, sou a favor disso para que o cidadão possa acompanhar mais de perto os trabalhos ou as propostas de seus representantes)... Mas não é bem desse tipo de uso a que me refiro. Estou argumentando em desfavor da disseminação de opiniões claramente ofensivas e, quase sempre, baseadas em "achismos", informações deturpadas ou mentirosas e ainda em insinuações/acusações desprovidas de evidências.
Essas últimas, em especial, são as mais preocupantes. Promover a construção negativa da imagem de alguém através da divulgação de informações sobre suas opiniões e atitudes deve ser acompanhado da necessária reflexão sobre a responsabilidade civil e social implicada nesse ato. Entretanto, o que se vê é uma tempestade de opiniões sendo disseminadas para contestar a tudo e a todos com base em mentiras ou informações deturpadas, que implicam em consequências negativas, seja para as vítimas das calúnias, seja para a sociedade em geral, quando se tratam de assuntos de interesse público.
Divergir é saudável, e alimenta positivamente a dialogia e a democracia. Contestar ideias, decisões e opiniões públicas (de governantes ou figuras públicas), manifestando sua insatisfação e posição contrária também é muito bom. Não estou falando dessas coisas... Falo da disseminação de opiniões baseadas em informações falsas que visam o embate típico da politicagem, não o debate político. Seus autores dizem ter a intenção de "esclarecer" os outros ou de contribuir para a cidadania. Isso contribui, na verdade, para a disseminação do ódio e da cultura de intolerância, nunca para a cidadania. Pelo simples fato de que são baseadas em mentiras, calúnias, ou dados deturpados, tais atitudes não podem contribuir para que o cidadão exerça seu dever cívico de decidir o futuro de sua cidade, Estado ou País de modo adequado.
O que fazer então diante desses manipuladores? Penso que a sociedade precisa avançar na discussão sobre a responsabilização civil desses atos, mas minimamente podemos iniciar com o simples ato de conferir quem e com que intenção se divulga uma opinião ou informação, antes de compartilharmos. Esse ato simples de responsabilidade social contribuirá muito mais para nossa desejada cidadania do que as hipócritas e mal-intencionadas postagens politiqueiras.

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